sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Dead poet´s society...hoje

Em 1959, num tradicional Colégio Welton Academy, um grupo de estudantes tem sua formação rígida abalada com a chegada de um novo e carismático professor de literatura, John Keating, ex-aluno, agora liberal, que através da poesia transforma a rotina de seus alunos em vivência que foge às convenções. Keating, bem humorado, inspira os rapazes a abrirem suas mentes, a seguirem seus sonhos e a viverem intensamente. Em sua 1ª aula já usa a frase shakespeareana: "Carpe diem", aproveitem o dia! E rompendo com a visão dogmática, não seguiu aquilo que havia aprendido e quebrou barreiras impostas.
O filme Sociedade dos Poetas Mortos é uma história de padronização, da regulação e da busca da excelência através da competição, do ser o melhor, do ser eficiente, do ter as notas melhores, de cursar a escola “certa”.
O colégio tem métodos opressores e moralistas (com conivência de pais ou responsáveis pelos alunos, da sociedade e da Instituição) e assim, de um hora para outra, os meninos são incentivados a pensarem por si mesmos, a repensarem o que querem escolher para sua própria vida, a reinventarem sua trajetória, repensando regras, experimentando desafios que os façam crescer.
O que o professor quer reforçar é a importância das emoções. Nossos sentimentos devem superar imposições sociais, e nosso íntimo, com nossas emoções, deve ser mais valorizado que as regras impostas pelo coletivo. Entretanto, a aparente quebra de regras, com a reabertura de uma sociedade secreta, se contradiz com a própria formação da Sociedade dos Poetas Mortos, onde todos têm que ler poemas, produzir versos, reunir-se em horários definidos, se quiserem se efetivar como membros. A Sociedade lê poemas de autores renomados e dos próprios personagens, como sendo renovadores e promotores de ações e pensamentos. Mesmo com o apoio total de Keating, a imaturidade dos rapazes impera.

Todd Anderson, por exemplo, é uma pessoa dócil que se sente ignorado pelo mundo. Na sala de aula, o professor o expõe no mais profundo dos sentimentos e emoções, coagindo-o, de forma autoritária também, a criar uma poesia que diga respeito às suas frustrações e torturas psicológicas sofridas pela convivência com um tio. O tio o oprime e o faz acreditar que o menino não tem valor algum. O professor, por meio de perguntas para caracterizar esse tipo de relação, leva o aluno a desmistificar esse adulto opressor, e o faz entender que as atitudes de adulto fracassado refletem-se no modo como ele trata Todd. Quer que Todd acredite ser um farcasso também.
Keating o instiga a gritar, por para fora toda a raiva que ele sente. Isto deveria ter sido feito num local privativo, onde os colegas não tomassem parte das questões fortes que envolvem Todd. Ele deveria ter sido preparado primeiro. Aqui ele também foi forçado e, desse modo, Keating exerceu a mesma forma que o Colégio exercia em todos, ao contrário.
Neil Perry, embora líder, não se defende diante do autoritarismo e do desrespeito do pai. O professor, compreensivo e amigo, como o pai deveria ser, o incentiva a ser ator, o que faz com que o pai autoritário o tire da escola, ameaçando-o com uma academia militar:- Eu penso por você, Você não tem que pensar! Pressionado e angustiado, Neil se suicida, no escritório do pai, com o revólver do pai. NÃO QUERIA SER MÉDICO. A culpa recai sobre Keating, para quem a verdadeira educação é a que induz o indivíduo a escolher o que gosta, o que está dentro de si, e não o que lhe é imposto.
Knox Overstreet, apaixonado por uma garota bonita, que namora outro, não sabe o que fazer para cortejá-la. Sua timidez e insegurança o impede de ver seu valor. É função da escola, do professor lhe dar diretrizes para lidar com suas fraquezas para vencer desafios.
Surgem conflitos, é claro, pois eles estão tentando caminhar com suas próprias pernas, para encararem o mundo com a cabeça aberta a outras conquistas, longe de se conformarem com o que está estabelecido, estão aprendendo a pensar. A estrutura da instituição, baseada nos princípios da tradição-honra-disciplina-excelência, foi tocada.

As cenas se passam em 1959 e evidenciam os conflitos entre o conservadorismo expresso pela direção exercida pelo anglicano Nolan e o jovem mestre, que joga futebol com seus alunos. Em dado momento, manda arrancar as folhas de Introdução à Poesia, de Pritchard, que, em sua opinião, não passa de um texto caquético, medíocre, excremento. No filme, quando preciso, as aulas eram dadas no pátio da escola, com forte sensibilização do aluno para o objeto do estudo, sem passar pela teorização. Com Dead Poets´ Society, um incrível interesse pelas relações entre autoritarismo e liberdade, pais e filhos, colegas entre si é mostrado.
A personagem dedo-duro Cameron, o lourinho cabeça-baixa, que criticava o professor querido da turma, pelos seus excessos de liberalidade, contou à diretoria o que se passava em classe. Keating é expulso de Welton, Nolan retoma as suas aulas e o faz dentro do estilo conservador de sempre. Quando Keating entra na sala para apanhar os seus pertences, alunos mais chegados reagem à sua saída. Sobem à mesa, num gesto de solidariedade e indignação, o diretor esbraveja, protesta, mas a atitude dos jovens se impõe.
Essa análise do filme propõe a tomada de posição para definir um professor de verdade hoje:
· aquele que consegue despertar o potencial de seus alunos, é aquele que ensina com alegria, faz aprender com alegria e se realiza em seus frutos.
· aquele que brinca levando a sério, dá espaço a brincadeiras, ao lúdico, sem constranger os mais lentos.
· aquele que acredita no aluno e mostra a este como e o quanto pode conseguir.
· aquele que sonha, e realiza. É aquele que ensina com a alma e serve de exemplo aos alunos. Que esses aprendizes se sintam felizes com sua profissão, seja ela qual for.
· aquele que pode até cair, mas levanta, e vai adiante, inovando sempre e ajudando o outro a se levantar.
Repetindo, Carpe diem – não temos controle sobre o amanhã, mas vamos aproveitar da melhor maneira o momento atual. Vamos modelar as metodologias arcaicas que ainda hoje entram em cena nas salas de aula do nosso país. Nada de fazer aluno decorar imensas listas de verbos irregulares em inglês. Aprender não implica em sofrer, mas uma peça teatral pode fazer uma aula muito mais prazerosa se utilizarmos esses verbos em contextos interessantes e divertidos. Planejamento, motivação, prazer em transmitir conhecimentos, numa atmosfera de carinho, respeito e ética, são pontos que o professor deve sempre ter em mente para fazer de sua aula um momento de prazer e realização. Aproveite, goze a vida, ela dura pouco, é muito breve.
Lilian Neves Gambarini

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